Olhos me espiam das gavetas entreabertas
Cobram-me valores brutos
valores líquidos
vencimentos pré-fixados.
Mãos de borracha me estendem
formulários em branco
arquivos genealógicos
e endereços bancários
em notas fiscais.
O meu olhar atravessa as paredes
em desvio de atenção
exibindo descaso e desdém.
Procuro sonhos
Teias e fios de cetim ou de algodão
Tecer degraus de náilon translúcido
Transmutar a inconsistente matéria
em ferro,fogo e ritmo.
Dormem suspensos casacos e blusas
saias e vestidos fora de moda
no armário de portas empenadas.
Posso ouvir o ruído das fechaduras
e o silêncio das chaves perdidas.
O rádio em seu surdo momento
descansa sobre as vozes contidas
mantendo o sonolento volume
das estações fora do ar.
A Santa na parede traz o milagre nas mãos
E a noite cumpre sua promessa
com a chegada do amanhecer.
*Cida*
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Elegia
Vamos viver esse amor triste
Beber nas mesmas taças
o resto do álcool
de uma paixão que evaporou...
Vamos beber dessa mágoa
o azul que ainda cintila nos cubos de gelo
da jarra prateada...
A inevitável aproximação dos corpos
enlaça em um tônico abraço
o mais inebriante carinho
da memória que não se perdeu.
Vem sorver a gota que escorre no meu rosto
como um brinde que faremos
desafiando o travessão duplo,
mal colocado,
em uma canção inacabada.
*Cida*
Beber nas mesmas taças
o resto do álcool
de uma paixão que evaporou...
Vamos beber dessa mágoa
o azul que ainda cintila nos cubos de gelo
da jarra prateada...
A inevitável aproximação dos corpos
enlaça em um tônico abraço
o mais inebriante carinho
da memória que não se perdeu.
Vem sorver a gota que escorre no meu rosto
como um brinde que faremos
desafiando o travessão duplo,
mal colocado,
em uma canção inacabada.
*Cida*
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Alegria
Há um espaço entre um passo e outro
e uma divisória mediando a sombra e o corpo.
Cada linha de uma pauta
guarda a distância de outra linha
e de outro espaço que contém uma nota em repouso.
Aí deve morar a alegria,
- o meio-termo entre o ver e o perceber,
o acidente entre a voz e o ar-.
*Cida*
e uma divisória mediando a sombra e o corpo.
Cada linha de uma pauta
guarda a distância de outra linha
e de outro espaço que contém uma nota em repouso.
Aí deve morar a alegria,
- o meio-termo entre o ver e o perceber,
o acidente entre a voz e o ar-.
*Cida*
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Contentamento
Não nessa noite em que as estrelas sorriam
Olhos profundos no mar negro da noite
Faíscas de lua enobrecendo o horizonte
infiltravam nos poros uma razão de ser no estar.
A consciência da alegria sem nome
inaugurada pelas folhas ruidosas
movidas por uma brisa musical
entoada pelas árvores...
Temperatura morna enovelando o corpo.
Não,nessa noite não havia lugar para incertezas
O momento era único e definitivo na vida.
*Cida*
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