O agora não é mais este instante
mas definitivamente.
Em quantas caras divide-se o mesmo espelho
que detem tua alma?
Cada fragmento exibe um sorriso de gato selvagem
no átimo do salto mortal.
Eu te amei.
Eu te amei por engano
com a ilusão que o mágico encena
rasgando cartas na mesa
dedilhando fumaça no ar...
Eu te amei consciente do mesmo engano
ao cerrar minhas mãos nas tuas
beijando a mesma boca que rosnava
em minha nuca notas rascantes de desejo...
Desejo de quê?
O mesmo desejo que me violenta à noite
impelindo-me a dormir sem fechar nenhum ciclo,
sem compreender um código da tua linguagem
e a presenciar a tua sombra desenhada no papel...
Gato selvagem que me assaltaste pelas costas,
Gato de botas que me pisoteaste feio,
como te amo,como te odeio!...
Cida
19.03.2005
sexta-feira, 22 de julho de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
Inspira-me,a noite...
Eu abraço a noite
em toda sua despedida
E aperto meus olhos
pra enxergar ao longe
a água movendo-se,
distraindo o luar.
E teus braços que também
se divertiram torcendo-me como pião:
( "Roda,pião,bambeia pião",
"Roda,pião,bambeia pião"...)
firmavam minhas pernas trêmulas
assustadas com a felicidade.
Ah,que momento eterno
enternecedor,
quando um beijo de delicado carinho
pousou em meu rosto
pronto para voar!
Nenhum pensamento
nenhum sofrimento
que denotassem aflição.
A hora da noite derramou todo seu capricho
entre as folhas das árvores
e irmanada ao vento
grampeou minha cintura bamba e
( "Roda,pião,bambeia pião",
" Roda,pião,bambeia pião"...)
O céu em neblina varreu meu momento
tão delicado,
atirando pra longe
o sorriso da menina
que lograva sua primeira noite ao luar.
(Dedicado à Eliana Pichinine,inspirado em" Luar",de sua autoria)
Cida
em toda sua despedida
E aperto meus olhos
pra enxergar ao longe
a água movendo-se,
distraindo o luar.
E teus braços que também
se divertiram torcendo-me como pião:
( "Roda,pião,bambeia pião",
"Roda,pião,bambeia pião"...)
firmavam minhas pernas trêmulas
assustadas com a felicidade.
Ah,que momento eterno
enternecedor,
quando um beijo de delicado carinho
pousou em meu rosto
pronto para voar!
Nenhum pensamento
nenhum sofrimento
que denotassem aflição.
A hora da noite derramou todo seu capricho
entre as folhas das árvores
e irmanada ao vento
grampeou minha cintura bamba e
( "Roda,pião,bambeia pião",
" Roda,pião,bambeia pião"...)
O céu em neblina varreu meu momento
tão delicado,
atirando pra longe
o sorriso da menina
que lograva sua primeira noite ao luar.
(Dedicado à Eliana Pichinine,inspirado em" Luar",de sua autoria)
Cida
Revelação
Perdi todas as peças
e quebrei a cabeça.
Perdi o juízo de mim mesma,
os recortes e cenas do dia a dia
nas curvas e conexões quebradas.
No chão colorido,na desordem dos versos
arrítmicos,
desarticulados,
as letras gritam o teu nome
entregando-me o segredo e os encaixes perfeitos.
Perdi as estribeiras e a carona com o tempo:
nada mais a fazer
nada mais a esperar
senão que o enigma se refaça
e reconstrua as horas perdidas
nos projetos inacabados.
Cida Mar/09
e quebrei a cabeça.
Perdi o juízo de mim mesma,
os recortes e cenas do dia a dia
nas curvas e conexões quebradas.
No chão colorido,na desordem dos versos
arrítmicos,
desarticulados,
as letras gritam o teu nome
entregando-me o segredo e os encaixes perfeitos.
Perdi as estribeiras e a carona com o tempo:
nada mais a fazer
nada mais a esperar
senão que o enigma se refaça
e reconstrua as horas perdidas
nos projetos inacabados.
Cida Mar/09
domingo, 17 de julho de 2011
Banalidades
Banalizei meu amor
E é comum em meu discurso
articular sem sombras de
dúvidas
que eu te amo à toa,à toa.
Qualquer entonação me serve
é o apoio que me concedem
na afasia dos meus versos
três palavras em decoro.
As notas de mãos dadas
em serena emissão de acordes
traduzem na composição fácil
que eu te amo tão naturalmente...
Mas se calo o óbvio e embaralho as sílabas
descarto em mim a tola pureza
da inocente vulgaridade.
Cida
E é comum em meu discurso
articular sem sombras de
dúvidas
que eu te amo à toa,à toa.
Qualquer entonação me serve
é o apoio que me concedem
na afasia dos meus versos
três palavras em decoro.
As notas de mãos dadas
em serena emissão de acordes
traduzem na composição fácil
que eu te amo tão naturalmente...
Mas se calo o óbvio e embaralho as sílabas
descarto em mim a tola pureza
da inocente vulgaridade.
Cida
Desapontamento
Procurei no teu rosto
O relógio que ponteia minhas horas.
Desnorteado,no claro refúgio das dobras da cortina
Assinalavas que já era tarde para qualquer acerto.
Mas quando penso que te perdi por inteiro
Minha metade te alcança em frações;
um dito,um não dito,um impreciso gesto
te recolocam em minha existência.
Dei de ombros,fingi descaso inultimente
ao desespero que já me envolvia.
A cabeça em parafusos
pré-estreia de uma luta desigual.
Amor me encarando,cobrando atitude
e o golpe de mestre que prometi no final.
Cida 29.03.2007
Enganos
Deste-me a esperança
parcelada em poucas horas
dividida em curtos dias
escamoteada em parêntesis
camuflando minha memória.
Bebi todas as palavras pelo gargalo
Sem elegância no estilo
sem sombras de compostura
e tratos de delicadeza.
Excedi na disparidade
No espelho em frente me calo
devolvendo a mesma imagem
do nonsense em rosto sereno.
Obstinada presença do ser
Na onda inquietante do querer!
Ter-te na luz dos meus olhos
e em segundos eternos perder-te
Tal qual a esperança que me deste
No último instante de ver-te.
Cida
12.12.2006
sábado, 16 de julho de 2011
O diário do amor
Bons são os sonhos
que vivemos no escuro
e o bem do amor silencia
o medo das sombras falantes
E
depois de escaladas as alturas
Tentar sonhar tudo de novo.
Cida
que vivemos no escuro
e o bem do amor silencia
o medo das sombras falantes
E
depois de escaladas as alturas
Tentar sonhar tudo de novo.
Cida
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Bênça,vovozinha!
Essa vovó descia e subia o morro depressa.Não me lembro bem de seu rosto nem de suas mãos.Mas imagino-as!
Lembro-me muito bem da voz meio rouca e já cansada de tanto emitir sons.Diziam que tinha sido escrava.Sabia fazer um café gostoso que nunca bebi.Ela cheirava a café.Tinha a cor do café fresquinho e gostoso.
Essa vovó usava um pano na cabeça e tinha sempre uma sacola na mão.Pra mim deveria ter uns duzentos anos!Não que me parecesse por demais velhinha,pois não me lembro de rugas no seu rosto,mas tinha sido escrava e cheirava a café moído na hora,como nas fazendas dos grandes senhores...
Não sabia o que era dor de cabeça e nunca andara descalça.Mas como,se tinha sido escrava??!!!! Mas eu,descalça na calçada, a descobri e pedia:
-"Bênça,vovozinha!" E essa vovó respondia: -"Deus te abençôe,meu brinquinho!"
Gostava quando me chamava de "seu brinquinho" e me aceitava como neta.Mas eu tinha uma preferência,gostava mais quando me chamava de "meu orinho".
Tento me lembrar agora de mais detalhes sobre a pessoa física e só consigo rever uma saia comprida,braço na cintura e uma sacola na mão.E o cheiro do café. E "Deus te abençoe,meu orinho!"
Não sei porque depois de tantos anos e só agora,adulta na idade,lembrei-me dela.
Talvez seja porque sinto falta de alguém que me abençoe,de alguém que nunca tenha sentido dor de cabeça e que me chame de seu brinquinho.
Talvez seja porque eu tenha agora nos lábios a vontade de ter o gosto de um café quentinho,e o desejo imenso de ser adotada,de ser amada espontaneamente,sem o compromisso de laços sanguíneos,de certidão de idade e de pia de batismo.
Só sei que eu gostaria de saber onde ela está agora.Subiu,subiu o morro e se esqueceu de descer.
Vai ver que tem sentido muita dor de cabeça e sente vergonha de dizer.
Cida - Rio,04.03.1973
( Dedicado ao meu grande amigo Assis Furriel, em 11.07.2011)
Lembro-me muito bem da voz meio rouca e já cansada de tanto emitir sons.Diziam que tinha sido escrava.Sabia fazer um café gostoso que nunca bebi.Ela cheirava a café.Tinha a cor do café fresquinho e gostoso.
Essa vovó usava um pano na cabeça e tinha sempre uma sacola na mão.Pra mim deveria ter uns duzentos anos!Não que me parecesse por demais velhinha,pois não me lembro de rugas no seu rosto,mas tinha sido escrava e cheirava a café moído na hora,como nas fazendas dos grandes senhores...
Não sabia o que era dor de cabeça e nunca andara descalça.Mas como,se tinha sido escrava??!!!! Mas eu,descalça na calçada, a descobri e pedia:
-"Bênça,vovozinha!" E essa vovó respondia: -"Deus te abençôe,meu brinquinho!"
Gostava quando me chamava de "seu brinquinho" e me aceitava como neta.Mas eu tinha uma preferência,gostava mais quando me chamava de "meu orinho".
Tento me lembrar agora de mais detalhes sobre a pessoa física e só consigo rever uma saia comprida,braço na cintura e uma sacola na mão.E o cheiro do café. E "Deus te abençoe,meu orinho!"
Não sei porque depois de tantos anos e só agora,adulta na idade,lembrei-me dela.
Talvez seja porque sinto falta de alguém que me abençoe,de alguém que nunca tenha sentido dor de cabeça e que me chame de seu brinquinho.
Talvez seja porque eu tenha agora nos lábios a vontade de ter o gosto de um café quentinho,e o desejo imenso de ser adotada,de ser amada espontaneamente,sem o compromisso de laços sanguíneos,de certidão de idade e de pia de batismo.
Só sei que eu gostaria de saber onde ela está agora.Subiu,subiu o morro e se esqueceu de descer.
Vai ver que tem sentido muita dor de cabeça e sente vergonha de dizer.
Cida - Rio,04.03.1973
( Dedicado ao meu grande amigo Assis Furriel, em 11.07.2011)
sábado, 9 de julho de 2011
Divisível por dois
Tua presença atravessa meu corpo
e minh'alma se farta de doer acompanhada.
Este instante recuperado
paira suspenso feito um murro no ar,
projetado no infinito
como um raio de perpetuação.
Eterno é o atrito dos galhos secos das árvores
despejando raras folhas silenciosas no chão de um quintal.
A canção que encomendei ao mar cinzento de ondas ruidosas
sustenta o aço das palavras
e torna solene o entreabrir de pálpebras.
Descortina-se então,a visão sombria de uma tempestade
que se anuncia corajosamente.
Acatei o inevitável...
Cida
e minh'alma se farta de doer acompanhada.
Este instante recuperado
paira suspenso feito um murro no ar,
projetado no infinito
como um raio de perpetuação.
Eterno é o atrito dos galhos secos das árvores
despejando raras folhas silenciosas no chão de um quintal.
A canção que encomendei ao mar cinzento de ondas ruidosas
sustenta o aço das palavras
e torna solene o entreabrir de pálpebras.
Descortina-se então,a visão sombria de uma tempestade
que se anuncia corajosamente.
Acatei o inevitável...
Cida
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Espelho
Já podes dizer quem sou
e estás em minhas mãos.
Já podes dizer sem rodeios,
de permeio,
encarando quem te vê;
a que olha e se compara
a que responde,duplicando a interrogação.
Eu sou a outra,sou a terceira,
a de esguelha
a que confronta
e não se reencontra
nem na segunda,nem na primeira.
Cida
(Dedicado à Luciane Mascarenhas)
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